As favelas brasileiras, aglomerados urbanos marcados por habitações precárias e alta densidade demográfica, são, ao mesmo tempo, uma representação clara da desigualdade social do país e da riqueza cultural do nosso povo.
Resultado da migração massiva da população do campo para as cidades durante o século XX, esses conjuntos habitacionais são frequentemente privados de infraestrutura básica, como saneamento e eletricidade.
Mas o que caracteriza uma favela? Como as favelas surgiram? Qual foi a primeira favela brasileira e qual é a maior favela do Brasil hoje? Por que as favelas têm esse nome?
A seguir, você vai encontrar resposta para essas e outras perguntas, que vão lhe fazer entender o que são e como funcionam as favelas no Brasil.
O que são as favelas brasileiras?
As favelas brasileiras são aglomerados urbanos caracterizados por habitações precárias, localizados principalmente em áreas metropolitanas. O termo favela, inclusive, voltou a ser adotado oficialmente pelo IBGE desde o último censo.
Esses conjuntos habitacionais se caracterizam pela alta densidade demográfica, e são compostos por casas feitas de maneira informal, em terrenos quase sempre sem documentação.
Originárias de um processo histórico complexo, que você vai entender em detalhes mais adiante, as favelas emergiram como resposta à migração massiva para as cidades durante o século XX.
Quase sempre, as favelas no Brasil carecem de infraestrutura básica, como saneamento, eletricidade e serviços de saúde, dificultando as condições de vida de seus moradores.
Habitadas predominantemente por famílias de baixa renda, as favelas são um reflexo da desigualdade social e econômica, ambas profundas no Brasil.
Mesmo com muitas dificuldades, muitas favelas são ricos centros culturais, que se caracterizam pela solidariedade comunitária e resiliência de seu povo.
Intrínseco à dinâmica urbana do Brasil, o cotidiano das favelas é uma representação tangível das disparidades socioeconômicas no país e, ao mesmo tempo, traz amostras culturais do que o brasileiro tem de melhor, como sua arte e criatividade.
Principais características das favelas brasileiras
As favelas estão espalhadas por todo o território brasileiro. E assim como acontece em qualquer local ou camada social, esses conjuntos habitacionais têm características diferentes dependendo da região do Brasil onde estão localizados.
Mesmo assim, há algumas características comuns à maioria das favelas brasileiras. Veja:
- Condições financeiras: a maioria da população vive em condições de baixa renda;
- Mercado Informal: grande parte da população tem trabalhos informais – os famosos bicos – ou está desempregada;
- Alta densidade demográfica: grande número de moradias e moradores aglomerados em um pequeno espaço de terra;
- Habitações informais: casas construídas em terrenos irregulares, muitas vezes tomados sem qualquer tipo de legalidade;
- Localização e terrenos em locais de alto risco: encostas de morros e locais sujeitos à inundação são pontos comuns para o surgimento das favelas;
- Falta de infraestrutura: as favelas brasileiras, em geral, ficam muito afastadas dos centros das cidades, e assim sua população fica sem acesso a processos como saneamento básico e eletricidade.
- Distanciamento do poder público: o serviço público, como unidades de saúde, condições de segurança e coleta de lixo também ficam distantes das favelas. A falta de políticas públicas impede melhorias nas favelas feitas pelo Estado.
Todas essas características acabam favorecendo o surgimento, dentro das favelas brasileiras, de organizações criminosas. Sem suporte do Estado, a população se vê nas mãos do tráfico de drogas ou, por vezes, das milícias.
Origem: como surgiram e qual foi a primeira favela do Brasil
Todo o processo de surgimento das favelas tem um nome que faz todo sentido: favelização.
Esse movimento surgiu a partir do crescimento desordenado dos centros urbanos nos países subdesenvolvidos e emergentes, principalmente após a segunda metade do século XX. Ou seja, a partir de 1950.
O movimento chamado de êxodo rural – saída em massa de famílias do campo para a cidade – se deu por conta da mecanização do trabalho no campo. Essas pessoas saíam do interior com direção à cidade em busca de condições de vida mais dignas.
Essa movimentação em massa, porém, ocorreu em todo o Brasil de forma muito desordenada. Sem infraestrutura para receber todos os novos moradores, as cidades foram se expandindo sem nenhuma organização, sempre para suas regiões mais afastadas do centro.
Ainda que a favelização tenha ganhado força no Brasil na segunda metade do século XX, a história conta que a primeira favela brasileira surgiu ainda no século XIX. Por volta de 1880, no Rio de Janeiro, um grupo de ex-escravos vivia no local que, hoje, é conhecido como Morro da Providência.
Anos depois, os primeiros moradores do morro acabaram dividiram o espaço com os ex-combatentes da Guerra de Canudos, que não receberam nenhum reconhecimento do governo ao voltarem dos combates.
Antes da chegada dos ex-membros do exército, o local era chamado de “Livramento”. Depois, ganhou o nome de “Morro da Favela”.
Isso porque esse termo deriva-se da planta medicinal de mesmo nome, também chamada de faveleira, e que era muito encontrada na região onde a Guerra de Canudos foi travada.
As maiores favelas do Brasil
Segundo o Censo do IBGE de 2022, o Brasil tem 11.403 favelas, onde vivem cerca de 16 milhões de pessoas. Levando em conta o número total de domicílios, essas são as 10 maiores favelas do Brasil segundo o mesmo levantamento:
- Sol Nascente, Brasília-DF: 32.081;
- Rocinha, Rio de Janeiro-RJ: 30.955;
- Rio das Pedras, Rio de Janeiro-RJ: 27.573;
- Beiru, Tancredo Neves, Salvador-BA: 20.210;
- Heliópolis, São Paulo-SP: 20.016;
- Paraisópolis, São Paulo-SP: 18.912;
- Pernambués, Salvador-BA: 18.662;
- Coroadinhoa, São Luís-MA: 18.331;
- Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, Manaus-AM: 17.721;
- Comunidade São Lucas, Manaus-AM: 17.666.
Em número de habitantes, o Top 3 das maiores favelas brasileiras se altera.
Os dois primeiros postos continuam os mesmos: a favela Sol Nascente, em Brasília, registrou mais de 87 mil habitantes.
Já a Rocinha, no Rio de Janeiro, que por muito tempo foi a maior do país, conta com mais de 67 mil moradores. Esse dado é o oficial do IBGE. A estimativa da própria população, porém, é que a Rocinha tenha, na verdade, mais de 100 mil moradores.
O terceiro lugar, porém, é da favela Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, em Manaus, com mais de 55 mil habitantes.
A seguir, vamos conhecer detalhes sobre as duas maiores favelas do país.
Sol Nascente: a maior favela do Brasil
O Setor Habitacional Sol Nascente, mais conhecido como Favela Sol Nascente, fazia parte do território de Ceilândia, no Distrito Federal, e tornou-se uma região administrativa em 2019.
Com mais de 80 mil habitantes, é considerada hoje a maior favela do Brasil e uma das maiores do mundo.
A área cresceu rapidamente desde os anos 90, quando terrenos foram fracionados de forma irregular. Sua população é predominantemente jovem: 30% são crianças e apenas 4,8% são idosos.
O nome Sol Nascente é uma junção de dois fatores. Na década de 90, a região tinha muitas nascentes de água. Além disso, uma das chácaras dos primórdios da região pertencia a uma família do Japão, a terra do sol nascente.
Rocinha: a favela mais conhecida dos brasileiros
A Rocinha, favela mais conhecida do Brasil, está situada na Zona Sul do Rio de Janeiro. Originalmente uma fazenda, tornou-se um bairro delimitado pela Lei Nº 1 995 de 1993.
Crescendo sem regularização, chegou a atingir 130 mil habitantes em 1970. O contraste urbano entre a Rocinha e os bairros de classe alta Gávea e São Conrado simboliza a desigualdade social do Brasil.
A favela da Rocinha tem características diversas. Enquanto algumas áreas contam com comércio, serviços e imóveis de qualidade, outras enfrentam condições precárias com casas de madeira e extrema pobreza.
Este vídeo do Canal Vida Infinda, com mais de 3 milhões de visualizações, mostra como é a realidade dentro da Rocinha:
Resumo: favelas brasileiras são resultado do crescimento desordenado
Como você viu, o fenômeno da favelização no Brasil, originado no crescimento desordenado das cidades, teve início no século XX.
A primeira favela brasileira surgiu no Rio de Janeiro, ainda no século XIX, onde hoje é o Morro da Providência.
Atualmente, há mais de 11 mil favelas no Brasil, que somam mais de 16 milhões de habitantes. Todas elas são marcadas pela precariedade habitacional e densidade demográfica elevada.
Esses conjuntos habitacionais não apenas evidenciam a desigualdade social no Brasil, mas também destacam a resistência e vitalidade de suas comunidades.
A falta de infraestrutura básica, associada a condições financeiras precárias e distanciamento do poder público, contribui para a complexidade desses aglomerados urbanos.